A Segregação Urbana ou o Mega proyecto Urbano (MPU)
“A cidade não pára, a cidade só cresce. O de cima sobe e o de baixo desce.”
Trecho da canção A Cidade do grupo Chico Science e Nação Zumbi
Vista aérea de Assunção e parte de sua Baía
Fonte: https://pt.scribd.com/doc/214249204/Seminario-Contenido-PDF#fullscreen&from_embed
Em seu livro Cidade de Muros, Teresa Caldeira é diligente ao relatar os padrões de segregação na cidade de São Paulo. A autora divide a história de São Paulo a partir do final do século XIX em três padrões de segregação.
Em um primeiro momento, do final do séc. XIX até os anos 40, Caldeira indica que São Paulo viveu um padrão concentrado, em que a segregação era definida pelos tipos de moradia.
Ela caracteriza esse padrão indicando que as elites habitavam, sobretudo, as áreas centrais e altas da cidade, enquanto os pobres se encontravam, principalmente, nas áreas baixas próximas ao Rio Tietê e ao rio Tamanduateí. Dos anos 40 aos anos 80 a autora define um segundo padrão de segregação determinado pela expansão da malha urbana. Esse padrão é denominado centro-periferia e é caracterizado pela segregação pela distância. Já a partir dos anos 80 Caldeira define um padrão em que há sobreposição das duas formas, isto é, encontramos a segregação através dos tipos de moradia, assim como o padrão centro-periferia continua sendo um indicativo de uma cidade segregada.
Na Assunção contemporânea também encontramos esta sobreposição de padrões. Mas aqui vamos nos ater ao mega projeto urbano da cidade de Assunção, que evidencia um padrão de segregação dado pelo afastamento/eliminação da população de baixa renda da Baía de Assunção.
Em 2011, Assunção e o Paraguai celebraram 200 anos de independência e como forma de “presentear” a cidade foi criado o Mega proyecto Urbano (MPU). Este projeto de revitalização costeira da Baía de Assunção trazia como principal mote a injeção de capital na cidade e o “embelezamento” da mesma.
Porém esquecia-se da participação cidadã sobre o projeto, das posteriores eliminações e substituições das pessoas que ali vivem com recursos escassos e seriam “convidadas” a se retirar de suas casas por valores irrisórios (gentrificação), além da negligência em relação aos direitos sobre a terra, ainda mais em uma sociedade que detém forte relação com a mesma.
A destruição dos lares dos habitantes locais de baixa renda se dá, nas primeiras etapas, através da pressão para deslocamento dos mesmos balizada por indenizações, excluindo a população costeira da região e expulsando-a de Assunção produzindo um processo de transformação de dinâmica que gera um maior índice de pobreza.
Esse deslocamento gera, além das desigualdades sociais, dinâmicas destrutivas de arraigamento com a terra, ruptura de laços sociais criados ao longo do tempo e rutura de meios de trabalho que já estavam estabelecidos.
Fica evidente também as intenções políticas apresentadas em um projeto como este. Estas são sustentadas, não só no Paraguai, mas em toda América Latina e em suas grandes metrópoles, pela mercantilização do solo e sua valorização, conduzidas por dinâmicas de desapropriações de moradias e deslocamentos de pessoas para “bem longe daqui” inerentes ao processo de gentrificação.
Reconhecendo uma primeira etapa de exclusão social e segregação urbana através da pressão e de irrisórias indenizações, podemos apresentar uma segunda etapa desse processo caracterizada pela lógica do mercado imobiliário (e sua especulação) e da planificação local, avalizado pelo aumento dos preços dos produtos vendidos na região, aumento do aluguel, entre outras mudanças, gerando inacessibilidade aos meios de vida nas áreas da borda costeira e produzindo a segunda etapa de exclusão daqueles habitantes que vivem e constituíram suas famílias e histórias naquele lugar.
Referências
Seminário de Investigação da FAU da Universidade de Chile
Acessado em: 14/12/2016, às 11:00
https://pt.scribd.com/doc/214249204/Seminario-Contenido-PDF
CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidades de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo, Ed. 34 2008 (2000) Cap. 6 São Paulo: três padrões de segregação espacial e Cap. 7 Enclaves fortificados: erguendo muros e criando uma nova ordem privada.