O Problema: A Economia Política de Detroit
O grande e derradeiro questionamento que fica é: como lidar com os espaços diferentes deixados pelo histórico de desenvolvimento de Detroit?
Enquanto a rigidez do próprio sistema fordista levou a maior parte de Detroit à sua ruína, assim como aconteceu no Grande ABC, a metropolização trouxe uma nova lógica de urbanização para aquela cidade: o centro, Downtown Detroit, com toda a infraestrutura e circulação acelerada de capital, com trabalhadores especializados e os bairros pobres ao redor, com suas pradarias urbanas, guetos e fábricas abandonados que servem de lar para crime, drogas e violência urbana.
Tomando aqui um espaço para uma pequena crítica: Manuel Castells não foi, em todas as suas análises, totalmente verossímil em relação à influência urbana do desenvolvimento de métodos cada vez mais poderosos de difusão de informação. Mas, em alguns casos, entre esses Detroit, há de se considerar que foram efetivamente criados espaços equivalentes ao que Castells chamou de “espaço de lugares”. O “espaço de lugares” é resultante da clivagem que existe entre aqueles que tem acesso à tecnologia e à globalidade enquanto aspecto de suas vidas, e aqueles que são isolados em seus bairros pelas barreiras de preço e pela própria gentrificação. Em Detroit, esse efeito se escancara nos fenômenos urbanos estapafúrdios que transformam a antiga cidade em um cenário pós-apocalíptico e a nova cidade em um grande centro econômico mundial.
Foto aérea de Detroit, mostrando bem a separação agindo segundo a Economia Política local.
Fonte: http://www.nytimes.com/interactive/2014/12/07/opinion/sunday/exposures-detroit-by-air-alex-maclean.html Acesso em 13/01/2017.
O curioso é que, enquanto resultado da economia política da cidade de Detroit, o que antes era a acumulação de formas (estruturas e máquinas) que se superpunham à natureza, hoje, é uma acumulação de formas (escombros sem uso) aos quais a natureza volta a se sobrepor, com uma gritante quantidade de pessoas com renda muito inferior à linha de pobreza nacional, sendo eles barrados do espaço da metrópole e dependentes do circuito inferior de circulação monetária, com tempos totalmente distintos, um regido pelo ritmo imposto pela urbanização globalizada e outro pelo abandono de antigos objetos, tudo isso enquanto consequência da lei de preferência, dentre outras causas, que retorna todos os impostos municipais a uma única área integrante da rede global de metrópoles.
As infraestruturas de Detroit em seus anos de ouro foram dissociadas de seu sistema de ações, deixando de fazer parte desse sistema de ações? Ou foram tomadas por outro sistema de ações que lhe atribuiu novas funções e se adapta às formas degradadas? Como é a interação entre Downtown Detroit e a periferia da cidade? Em suma, a pergunta é: a parte antiga e degradada de Detroit deixou de fazer parte da Detroit enquanto metrópole?
Referências
CASTELS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003. Cap. 8 "A Geografia da internet: lugares em rede".
SANTOS, Milton. Por uma economia política na cidade. São Paulo, EDUC/ HUCITEC, 1984. Cap. 5 "Por uma economia política na cidade" pp. 115-144.