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Tepito: circuito inferior da economia na Cidade do México


Foto: Adriana Zehbrauskas


As origens comerciais do bairro de Tepito remontam ao final do século XIX quando os comerciantes das feiras abertas conhecidas como tianguis, localizadas ao lado do Palácio Nacional do México, foram transferidos para Tepito. Ao redor da praça de San Francisco o comércio se desenvolveu, principalmente com a venda de roupas, sapatos e ferro velho. Em seguida o governo permitiu que os trabalhadores instalassem postos de venda, o que tornou os comércios locais em dormitório e residência. Na década de 60 (século XX) os produtos contrabandeados começaram a ser comercializados no bairro.


Tepito é localizado no coração da Cidade do México. Segundo o antropólogo estadunidense, Oscar Lewis, citado pelo sociólogo Carlos Vega, que pesquisa o comércio de Tepito pela ótica da globalização e liberalização de mercados: “Es ahí donde vive la familia mexicana, en un barrio bravo, de fuerte identidad, en donde también se encuentra un mercado para todo tipo de productos” (Deutsche Welle, 2015).


No bairro o comércio formal e informal se misturam. O contrabando e o tráfico fazem parte da paisagem urbana. Em uma lista divulgada anualmente pela autoridade de comércio internacional dos EUA (United StatesTrade Representative – USTR), o México, junto com Brasil, Argentina e Paraguai, aparece como local de concentração de comércios informais de pirataria e contrabando (El Financiero, 2016). Os principais locais indicados são: no Paraguai, Cidade do Leste, em São Paulo a Galeria Pagé e a 25 de Março, na Argentina o Mercado 'La Salada', na Cidade do México é apontado Tepito.


Tepito, circuito inferior?


Nas obras “O Espaço Dividido” e “Da totalidade ao lugar”, Milton Santos discorre sobre a formação de dois circuitos urbanos, o circuito superior e o inferior. O conceito é atribuído às cidades dos países periféricos onde a modernidade (racionalidade) se desenvolve de maneira desigual sobre o território. No entanto, o circuito inferior, de acordo com Santos, depende do superior para existir.


“Um destes circuitos é o resultado direto da modernização e diz respeito a atividades criadas para servir ao progresso tecnológico e à população que dele se beneficia. O outro é também um resultado da modernização, mas um resultado indireto, visto que concerne àqueles indivíduos que só parcialmente se beneficiam, ou absolutamente não se beneficiam, do recente progresso técnico e das vantagens a ele ligadas” (Milton Santos. Da totalidade ao lugar. p.96)


As diferenças entre os dois circuitos se baseiam em diferenças tecnológicas e organizacionais e não em uma questão de formalidade de trabalho, pois ambos os circuitos, hoje em dia, podem ter em sua cadeia de ações passagem pelo outro circuito - seja um grande distribuidor de eletrônicos, mas todos pirateados ou alguma grande loja de departamento que se utiliza de mão de obra irregular (até escrava) em suas confecções. Tepito, reconhecidamente distribuidor de mercadorias contrabandeadas e pirateadas, apresenta características claras pertencentes ao circuito inferior ou ao circuito superior marginal, mas também se insere nesta lógica complexa do século XXI, sendo necessário um estudo aprofundado para discorrer sobre todos os caminhos dos circuitos econômicos que existem no bairro.


Francisco Mata Rosas ( Deutsche Welle, 2015)


Vídeo: Mercado de Tepito.




Referências:


Globalización desde abajo: Tepito y La Salada. Deutsche Welle, 2015. Acessado em: http://www.dw.com/es/globalizaci%C3%B3n-desde-abajo-tepito-y-la-salada/a-18529287


La Ciudad de México en el tiempo: Tepito. Más por más, 2016. Acessado em: https://www.maspormas.com/2016/10/28/la-ciudad-mexico-tiempo-tepito/

México, Argentina y Brasil, 'fichados' en la lista de piratería de EU. El Financiero, 2016. Acessado em: http://www.elfinanciero.com.mx/economia/argentina-mexico-y-brasil-en-lista-de-pirateria-de-eu.html


Tepito, Barrio Bravo. De William Brandt in Adriana Zehbrauskas. Acessado em: http://azpix.com.br/site/tepito/#1058


Tepito: barrio marginado desde tiempos prehispánicos. Por Julieta Sanguino em Cultura Colectiva, 2015. Acessado em: http://culturacolectiva.com/tepito-barrio-marginado-desde-tiempos-prehispanicos/



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