Rio de Janeiro, uma cidade global?
Segundo o economista, Mauro Osório, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a atual crise política, econômica e social da cidade ficou mais intensa a partir do ano de 1964, pois sua estrutura de instituição foi criada com o objetivo de se administrar o país.
O professor Osório acredita que não existe um pensamento voltado para o regional e por consequência, a utilização de políticas econômicas federais, mais antigas, tornam as estruturas locais ineficientes, provocando o mau gerenciamento do sistema produtivo. Segundo Osório, a organização do Rio de Janeiro, desde a sua formação tem se mostrado restrita no espaço local e de maior relevância no âmbito das relações nacionais, nos setor militar e no administrativo. Até o ano de 1920, se abrangiam mais as questões de segurança e econômica (setor portuário).
Depois, o Rio de Janeiro tornou-se um centro político e administrativo do país. Nas décadas de 1950/60, a cidade do Rio transformou-se num importante centro financeiro e empresarial público ou/e privado, dentro e fora do país. Desse modo, as decisões eram tomadas em domínio nacional.
Os centros universitários relevantes, segundo Osório, em sua maioria são instituições federais, com exceção de São Paulo e Minas Gerais que são de âmbito estadual. Também, não existe a preocupação, segundo o professor Osório, de se realizar o mestrado ou doutorado abrangendo temas locais.
A consequência dessa organização, com finalidades e objetivos que não envolvem assuntos locais e regionais, é o oportunismo declarado de empresas, algumas do setor da construção civil, que se instalaram na cidade, desde que o Rio de Janeiro era a capital nacional. Apesar da importância de se desenvolver a economia local, havia uma forte influência dos grupos empresariais nas decisões políticas, não permitindo o desenvolvimento local.
Com a mudança da capital para Brasília, o serviço social da Previdência só foi transferido, em meados de 1980, quando o BNDES e a Petrobras ainda se encontravam na cidade inicial. A situação de deslocamento das instituições demonstrou a lentidão na reestruturação das decisões nacionais para as regionais.
O pensamento de localidade veio a transparecer apenas vinte anos depois da mudança de capital, de acordo com o professor Osório. O "milagre econômico" ou medidas financeiras realizadas pelo governo federal provocou entre 1968 e 1970, o crescimento industrial do país foi de 285%, de Minas Gerais, 342%, e do Rio, apenas 173%.
Segundo o professor Osório, a economia teve uma melhora em 2008, porém, não efetiva, com áreas menos favorecidas em periferias da metrópole e interior. A falta de concursos para se contratar funcionários municipais e estaduais fizeram com que os serviços públicos ficassem desatualizados e ineficientes, trazendo prejuízos fiscais na cidade e total falta de estrutura na distribuição do orçamento, causando um jogo de forças onde o mais forte pode mais.
O economista Mauro Osório, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e doutor em Planejamento Urbano e Regional pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da mesma instituição, é considerado um dos maiores especialistas na metrópole fluminense.
Figura 1: Os fluminenses não perceberam os efeitos da perda do posto de capital da República
Figura 2: A percepção geral no Rio de Janeiro é de que foram feitas “de qualquer jeito” e que podem ter envolvido irregularidades.
REFERÊNCIAS:
Falta ao Rio reflexão sobre os problemas locais, diz economista
por Carlos Drummond — publicado 02/07/2016 06h30, última modificação 02/07/2016 07h59.
Entrevista publicada originalmente na edição 907 de Carta Capital, com o título "Maravilhosa, mas esquecida”. Disponível em http://www.cartacapital.com.br/revista/907/maravilhosa-mas-esquecida. Acesso em 10/12/2016.
Figura 1. Falta ao Rio reflexão sobre os problemas locais, diz economista
http://www.cartacapital.com.br/revista/907/maravilhosa-mas-esquecida. Acesso realizado em 10/12/2016.
Figura 2. Rio vence cronograma, mas não a desconfiança.
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/rio-2016-vence-cronograma-mas-nao-a-desconfianca. Acesso realizado em 10/12/2016.