Dispersão do tecido urbano: migrações em Manaus e a expansão das áreas periféricas
Nessa oportunidade, trabalharemos a metrópole de Manaus sobre a ótica do tema "dispersão urbana", tendo em vista o processo de urbanização de Manaus e suas consequências. Teceremos algumas considerações sobre a expansão do espaço urbano atrelada as políticas que estiveram por trás deles e as consequências em relação à população, trazendo a questão da formação das áreas periféricas.
Como já vimos em momento anterior, ao longo do processo de urbanização, o espaço de Manaus foi sendo modificado e adquirindo traços tipicamente urbanos. Tal processo é importante não só se pensarmos em termos econômicos, mas também, em como as atitudes e os comportamentos das pessoas são modificados, de certo modo, implicitamente, quando consideramos que o espaço pode ser um fator condicionante de processos sociais. Ojima (2007) nos aponta a importância de se considerar esse aspecto, sendo que ele critica a ausência de estudos sobre o urbano que considerem o fato em questão. Nas palavras dele:
"[...] pouco se avançou sobre o consumo, a troca e a circulação desse 'produto' social; e quase nada se disse a respeito dos efeitos do espaço sobre o social, pois, evidentemente, o espaço nunca adquiriu peso significativo nestes estudos para que pudesse ser tratado como uma variável relevante e eventualmente capaz de interferir nos processos sociais" (p. 279).
Para tornar mais clara a afirmação acima, é válido abordar alguns aspectos da cidade de Manaus, de maneira resumida. Nosso ponto de partida está na migração populacional motivada pela Zona Franca de Manaus (ZFM), criada em 1967. Criou-se uma estrutura espacial e a partir dela houve um movimento intenso, advindo de porções interiores do estado e dos estados vizinhos para a metrópole, fator que provocou sem dúvidas uma expansão da mancha urbana, no sentido de uma ocupação mais dispersa, contrariando o padrão de expansão em áreas mais localizadas como até então predominava. Tal processo é visível quando consideramos que a população manauara entre 1960 e 2010 passou de 175.343 habitantes para 1.802.014 habitantes, segundo os dados do IBGE (2010).
Toda essa expansão fez com que os migrantes se estabeleçam, em geral, como moradores das áreas mais periféricas, ao mesmo tempo em que a ausência e/ou precariedade de políticas públicas nessas áreas será visível. As áreas centrais da cidade foram valorizadas, ao contrário das periferias e, conforme o tecido urbano ganha corpo, os custos de instalação e manutenção dos serviços básicos tornam-se mais elevados. Dentre os bairros periféricos de Manaus temos, por exemplo, a comunidade de Grande Vitória (reconhecida oficialmente com o nome de Gilberto Mestrinho, zona leste) e a comunidade de Parque São Pedro, no bairro de Tarumã (zona oeste).
Figura 1 - Zonas e bairros da metrópole de Manaus (ARAUJO, et. al., 2014, p. 12).
Tal cenário aliado aos interesses de grupos políticos específicos entra como outro empecilho a promoção de melhorias efetivas pelo poder público, mesmo que entre as décadas de 1960 e 1990 tenham havido algumas iniciativas estatais no sentido de construir Conjuntos Habitacionais (COHAB). Então, será notável o processo das Ocupações na década de 1970 como maneira pela qual os movimentos populares asseguram o direito à moradia e também como forma de resistência dentro da realidade na qual estão inseridos.
Referências:
ARAUJO, Mirelia Rodrigues de; DESMOULIERE, Sylvain Jean Marie; LEVINO, Antônio. Padrão espacial da distribuição da incidência de dengue e sua relação com a variável renda na Cidade de Manaus, Estado do Amazonas, Brasil. In.: Rev Pan-Amaz Saude, Ananindeua, v.5, n.2, p.11-20, jun. 2014. Disponível em:
<http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-62232014000200002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 dez. 2016.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). População nos Censos Demográficos, segundo os municípios das capitais - 1872/2010. In.: Sinopses do Censo Demográfico 2010. Brasil: Rio de Janeiro, 2010.
Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=6&uf=00>. Acesso em: 15 dez. 2016.
OJIMA, Ricardo. Dimensões da urbanização dispersa e proposta metodológica para estudos comparativos: uma abordagem socioespacial em aglomerações urbanas brasileiras. In.: Rev. bras. estud. popul., São Paulo, v. 24, n. 2, p. 277-300, dez. 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-30982007000200007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 dez. 2016.
OLIVEIRA, José Aldemir de; COSTA, Danielle PEREIRA. A análise da moradia em Manaus (AM) como estratégia de compreender a cidade. In.: Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona: Universidad de Barcelona, ago. 2007, vol. XI, núm. 245 (30). Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-24530.htm>. Acesso em: 15 dez. 2016.