A moderna Tóquio e seus gargalos
O conjunto de matérias jornalísticas que coletamos dizem respeito à diferentes momentos do urbano em Tóquio, tendo como destaque seu contexto eleitoral e qual o futuro da cidade nas olimpíadas de 2020. Pela primeira vez em sua história a cidade terá uma governadora mulher. Seu nome é Yuniko Koike do Partido Liberal Democrático (LDP), a candidata venceu as eleições com mais de 60% dos votos da cidade, ganhando com bastante vantagem em relação aos outros vinte candidatos concorrentes. As eleições foram convocadas devido à renúncia do antigo governador Yiochi Masuzoe, acusado de uma série de casos de corrupção e uso privado do dinheiro público.
Foto 1: Yiochi Masuzzoe, após sua renuncia do governo.
Fonte: The Guardian, 2016.
A estória política recente é interessante, pois traz como plano de fundo uma série de conflitos desde o processo eleitoral anterior, em 2014. Um deles foi à manifestação das mulheres e movimentos feministas contra uma série de comentários de alto teor machista e misógino do ex-governador. A fama de Yiochi Masuzoe nesse sentido não é nova. Desde os anos 1980, seu alvo principal era em grande parte as mulheres do partido socialista Japonês (PSJ) que compunham o parlamento, chegando ao limite de chamá-las de “bruxas da idade média”. Os casos dos escândalos de corrupção que afastaram o ex-governador, no geral, se referem a desvios de dinheiro público em contas pessoais, viagens, bens, apostas, jogos e etc.
Nesse contexto lamentável que se encontra a cidade, Yuniko Koike, embora sendo representante do mesmo partido que apoiou a candidatura de Yiochi Masuzoe, irá expressar no urbano um efeito ao mesmo tempo material e simbólico. O fato de ser a primeira governadora mulher de Tóquio, no lugar de um misógino e corrupto, é estratégico na medida em que Koike poderá aglutinar as forças sociais necessárias na condução da administração da cidade e, assim, preparar as condições necessárias para sediar os jogos olímpicos em 2020.
Um fato interessante em termos históricos é que há mais de 50 anos (1964), Tóquio foi a primeira cidade asiática a sediar os jogos olímpicos e a transmiti-los com tecnologias de satélite para o outro lado do pacífico. Essas olimpíadas, na escala global, simbolizaram um novo papel que o Japão exerceria no contexto de Guerra Fria, reafirmando seu poder econômico e geopolítico no continente asiático.
Yuniko Koike nas campanhas das eleições
Fonte: Istoé 2016
As matérias recentes ainda evidenciam uma contradição profunda nas relações do que vem a ser o “moderno”. Tóquio é comumente associada ao “progresso da vida social”, entretanto, embora ocupe uma posição central no capital, no que diz respeito às esferas produtiva, social e tecnológica, encontramos um cotidiano coisificado, deteriorado e marcado por problemas comuns à realidade dos países periféricos. Podemos traçar esse paralelo inclusive com a realidade político-institucional brasileira, onde estão representados seus setores mais retrógrados, reacionários e caricatos e onde o território é devorado pelo discurso de uma pretensa modernização que, segundo Milton Santos, é ainda incompleta.
Fontes:
SANTOS, M. Metrópole coorporativa fragmentada, IN: Ocupação periférica e ocupação do centro. Edusp 2009, São Paulo. p.43-47.
MCCURRY, J. Tokyo's governor Yoichi Masuzoe resigns over expenses scandal. Tókio, 2016. Disponível em http:https://www.theguardian.com/world/2016/jun/15/tokyo-governor-yoichi-masuzoe-resigns-expenses-scandal Acesso em 14 de Set. 2016.
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/japonesas-ameacam-boicote-sexual-politico