Belém: cidade, urbano e floresta
Mercado de Ferro do Ver-o-Peso, tradicional ponto turístico de Belém.
A compreensão do espaço urbano está diretamente relacionada à formação histórica e espacial da cidade. Para Milton Santos, “o urbano é frequentemente o abstrato, geral, o externo. A cidade é o particular, o concreto, o interno. Não há como confundir, por isso há histórias do urbano e histórias da cidade” (SANTOS, 1994, p. 69). Os conceitos de cidade e urbano, apesar de distintos, têm uma relação indissociável, já que em sua gênese o tecido urbano emerge no seio da dinâmica socioespacial das cidades (Nascimento, 2011).
Como toda grande metrópole, cuja história é determinante para o urbano que a cidade incorporara, Belém tem uma ecologia própria, isto é, a cidade guarda em si aspectos particulares da sua formação. No entanto, sua proximidade com a floresta amazônica deu origem a um recente processo de recriação do espaço da metrópole através do turismo.
Para estimular a atividade turística, houve um processo de restruturação da Cidade Velha (bairro no centro da capital) e a busca por preservar patrimônios históricos. Assim, Belém foi adequando as formas de sua história à racionalidade do lucro, no caso, turístico, seguindo um padrão que é comum às demais metrópoles brasileiras, de conservação de patrimônios que se distinguem das novas formas espaciais que se estabelecem dentro do contexto do meio técnico-científico-informacional (mais precisamente, os modernos prédios corporativos e do comércio varejista, das centralidades modernas da cidade).
De frente para as águas do Rio Guamá, o Mercado de Ferro das chamadas Casas do Ver-o-Peso (criadas no século XVIII para a cobrança de impostos) foi reformado em um grande projeto de reconstrução do conjunto arquitetônico e paisagístico de Belém. Trata-se da maior feira livre da América Latina, que busca expressar a riqueza regional de Belém, cujo caráter de “metrópole amazônica” é disputado por Manaus. Há, portanto, o interesse em resgatar aspectos simbólicos do modo de vida amazônico (e explorar sua biodiversidade) pelo viés do turismo.
É possível dizer que a metrópole paraense se recria através da plasticidade de seu passado? Pelo menos em relação à Cidade Velha, seu papel turístico se adequa ao modo contemporâneo de acumulação, em que o turista, ainda que um “não cidadão” da metrópole, realiza um resgate da vida amazônica por meio do consumo, enquanto resta à população mais pobre a periferia recém-produzida, afastada das novas centralidades, dentro do contexto urbano em que Belém se insere.
Ainda há muito o que ser analisado para compreender a formação dessa metrópole e seu urbano, cuja integração com a natureza ocorre para a realização do turismo que, segundo Milton Santos (1987 apud RIBEIRO, 2002), é uma forma de consumo elitizado.
Referências
NASCIMENTO, J. C. D. Cidade e urbano: uma abordagem teórica e conceitual. Webartigos, julho de 2011. Disponível em: <www.webartigos.com/artigos/cidade-e-urbano-uma-abordagem-teorica-e-conceitual/70995>. Acesso em: 22 set. 2016.
RIBEIRO, W. C. Globalização e geografia em Milton Santos. In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, núm. 124, 30 de septiembre de 2002.
SANTOS, M. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio técnico-científico-informacional. São Paulo: Hucitec, 1994. p. 65-82. Ver-Belém. www.belem.pa.gov.br/ver-belem