A cidade e o urbano no viés da água na Cidade do México
A Cidade do México como conhecemos hoje tem uma história que remonta os 7000 anos a.C. Sua localização se dá às margens do lago salgado Texcoco, situado a mais de 2000 m de altitude. Antes da chegada dos espanhóis, a cidade foi refundada pelos Mexicas (Astecas) com o nome de Tenochtitlan, no ano de 1325, sobre uma pequena ilha na parte oeste do lago. O local era protegido por diques que permitiam controlar o nível das águas do lago e também obter água para consumo graças à separação obtida entre a água das chuvas e a água salgada do lago.
Os diques foram destruídos pelo cerco espanhol à cidade. A partir do período colonial até final do século XVII a cidade vai sofrer inúmeras inundações.
Fig1.Lago de Texcoco no detalhe do mapa de Bruff/Disturnell de 1847.
Cidade e Urbano
A Cidade do México moderna tem seu nascimento associado a graves problemas com a água dada sua posição geográfica. De acordo com Milton Santos “o urbano é frequentemente o abstrato, o geral, o externo. A cidade o particular, o concreto, o interno”. Portanto, para decifrar a cidade é exigido a articulação da noção de espaço, enquanto o urbano, pela noção de periodização. Dessa forma, podemos traçar como se deu a urbanização da Cidade do México pela apropriação da água em cada período histórico, e suas implicações espaciais na formação da cidade e sua metrópole.
Como é sabido, no início do período colonial a relação com a água foi de recorrentes inundações. No século XVIII começaram a ser feitas drenagens no lago por meio de canais e um túnel, ligados ao rio Pánuco. No entanto, por este estar abaixo do nível freático, as inundações continuaram e se estenderam pelo século XIX, após a independência do México em 1821. O problema das inundações só foi controlado com a implantação do projeto Drenaje Profundo, iniciado em 1967, que constitui uma rede de centenas de quilômetros de túneis e galerias. Nessa época o México esteve sob intensa industrialização e a cidade crescia para englobar 40 municípios e se tornar a maior região metropolitana das Américas, atualmente com mais de 22 milhões de habitantes em uma área de 7300km².
Contradições atuais
Após a drenagem do lago, embora se tenha resolvido parcialmente o problema das inundações, foram produzidas graves alterações ambientais: parte do vale tornou-se semi-desértico e a cidade começou a afundar devido à perda dos lençóis freáticos. Atualmente também ocorrem problemas de abastecimento embora, paradoxalmente, ainda ocorram enchentes em épocas de chuva.
A água para abastecimento vem de outras regiões do país e não atende toda a população, sendo parte dela forçada a percorrer quilômetros para consegui-la. Outra questão atual é a poluição dos rios que abastecem os sistemas de irrigação agrícola, devido à falta de saneamento básico e tratamento de esgoto.
Referências
CORONA, Sonia, “A Cidade do México morre de sede”, matéria publicada no jornal El País. 26/08/2014. http://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/26/sociedad/1409010500_912848.html
GARZA, Gustavo. El carácter metropolitano de la urbanización en México, 1900-1988. Estudios demográficos y urbanos, p. 37-59, 1990.