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Cinema e espaço em Recife

Segundo Lipietz e Leborgne, em “Pós-fordismo e seu espaço”, o atrito dos elementos mercantis do capitalismo, relações salariais e relações internacionais permaneceram inalteradas ao longo da história. As diferentes soluções a partir desses atritos foram tidas como “modelos de desenvolvimento”. Os autores afirmam que o traço principal da atual revolução tecnológica e a inovação de seus produtos tem fortes impactos nas mudanças culturais.


A partir dos entendimentos do aperfeiçoamento das formas de produção, e suas consequências para além do capitalismo e alterações definitivas nos meios de produção, os modelos de desenvolvimento e revoluções tecnológicas começam a fazer parte da indústria cultural, conceito explorado abundantemente pela Escola de Frankfurt.


O domínio de técnica de reprodução, ao invés de retomar ideais iluministas – de buscar a propriedade do raciocínio para pensar filosoficamente a realidade contemporânea – torna-se um maquinário de domesticação e docilidade a partir da exploração sistemática dos bens culturais. Por outro lado, a indústria cultural permite, a partir de sua reprodutibilidade e acesso facilitado às ferramentas, que enseja também a propagação de artes fora do circuito comercial.


Para Milton Santos, em “Por uma outra globalização”, o consumo é o veículo de estímulos estéticos, morais e sociais, levado pela nossa sociedade com o mesmo fundamentalismo da competitividade – visto que a reprodução e a aspiração à hegemonia são tidas como virtudes em nossa sociedade – o que leva ao emagrecimento moral e intelectual, reduzindo as representações individuais e das visões de mundo, o que tem forte relação com a massificação da informação e das artes, muito acentuado pela tecnologização de suas ferramentas.


O último, e atual, movimento do cinema pernambucano, chamado “Novo Cinema Pernambucano” é ensejado por políticas públicas estaduais ao audiovisual que incentivam a produção cinematográfica, aliada à uma tradição cultural - o principal recurso é o Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, o Funcultura, instaurado em 2002 - e artística da cidade que é um dos pólos de cinema do Brasil. É partir desses incentivos que Recife volta a deflagrar sua sociedade, marginalizada não apenas em termos sociais e econômicos, mas também do circuito da arte mainstream, que tem mais visibilidade no eixo São Paulo – Rio de Janeiro.

Contemplado pela sua diversidade, o “Novo Cinema Pernambucano” é visceral ao retratar problemas como a urbanização desenfreada, o boom imobiliário, a saturação da violência e a emergência de novas classes sociais. Embora cada filme com as suas particularidades, a questão urbana, sua marginalidade, seu caos, são tão protagonistas dos filmes quanto as atrizes e atores.


Em “Geografia e Cinema: Abordagens do Espaço Urbano Fílmico” de Gervásio Hermínio Gomes Júnior, o cinema ajuda a “inverter os lugares”, modelando a imaginação geográfica, transformando o real a partir da fusão da realidade com a fantasia. As cidades, como Recife nos filmes “Tatuagem”, “Aquarius”, “Som ao redor”, “Amarelo manga”, “Febre do rato”, são representações de uma cidade “inventada” ou “imaginária”, construída a partir da materialidade do objeto real, mas enviesado pelo objeto simulado e representado. Não por motivos de deslealdade ou desvirtuamento, mas esse imaginário será um respaldo para compreender o significado da imagem real, como uma ferramenta para entender os símbolos que moldam nossas visões de mundo, neste caso, a cidade. Então, a cidade passa de paisagem para uma representação cultural das nossas práticas socioespaciais. Ainda sobre a representação das cidades no cinema, o autor diz:

“A cidade cinemática é, dessa maneira, conectada ao real, ou seja, conectada à

forma como a cidade é experienciada, não sendo, mais uma vez, somente uma

reprodução ou um reflexo da cidade concreta, mas sua representação simbólica,

podendo dizer muito a respeito da realidade da cidade e influenciar na forma com essa

realidade é julgada, interpretada,

representada, vivida etc.” (p.7)



Cinema pernambucano vive momento ímpar em sua história:



Referências


LIPIETZ, Alain; LEBORGNE, Danièle. O pós fordismo e seu espaço. Espaço & Debates. Revista de estudos regionais e urbanos, ano VIII, 1988, pp. 12 – 29.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. São Paulo, Ed. Record, 2000, Cap. 7 “A tirania da informação”.


GOMES JÚNIOR, Gervásio Hermínio. Geografia e Cinema: Abordagens do Espaço Urbano Fílmico. Disponível em: <http://www.cbg2014.agb.org.br/resources/anais/1/1404671778_ARQUIVO_Geografiaecinemaabordagensdoespacourbanofilmico.pdf>



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