A industrialização mexicana no século XX e a produção do espaço na Cidade do México
O processo de industrialização mexicano, assim como em diversos outros países da América Latina foi tardio, iniciando-se no século XX com a substituição dos produtos importados pela produção local. Neste contexto, a intervenção estatal foi determinante para a realização desse processo, que se pautou na substituição das importações.
Neste contexto, CÓRDOVA (1978) explica que "o Estado mexicano se constituiu sobre a base de uma integração dirigida politicamente, chegando abarcar a maior parte dos setores organizados da população e adotando os interesses destes setores como programa, modificável segundo as circunstâncias e segundo a correlação de forças existentes, e como motivo imediato de sua ação". Este papel "integrador" do Estado mexicano se manifestou concretamente em sua intervenção maciça nas gigantescas tarefas do desenvolvimento econômico deste país, especialmente a respeito da relação entre empresa privada e Estado, que se transformou em vinculação estreita (SCHUCKING, 1981).
O processo de industrialização foi responsável por determinantes transformações na ocupação do espaço no território mexicano, sobretudo devido à urbanização e ao êxodo rural. Esta urbanização teve como principal eixo a capital, Cidade do México, que cresceu rapidamente, tornando-se uma das maiores metrópoles do mundo nos dias de hoje.
Neste sentido, de acordo com Muñoz, Oliveira e Stern (1978), as migrações internas a partir do início da industrialização na década de 1930 constituíram principal motor de crescimento da cidade, que passou de 1,3 milhão de habitantes em 1930 para 8,8 milhões em 1980. A cidade aumenta tanto em número de habitantes quanto em área urbanizada dispersando-se em território e englobando outras 40 cidades que formarão a região metropolitana. Essa espacialização e modernização acentua a conhecida divisão entre um centro rico e uma periferia pobre e operária, que marcou o período fordista. É também dessa fase o projeto de drenagem profunda que, para solucionar o problema frequente de inundação, criou sérios problemas ambientais.
A cada reestruturação do sistema econômico, ocorre como reflexo uma reestruturação do espaço tanto no nível regional quanto local. Localmente, a cidade entra no período contemporâneo de produção ou toyotismo, nas décadas de 80 e 90, com o movimento de abandono do centro por parte das classes médias e altas, e consequentemente vê sua decadência, o que se traduziu por uma maior proximidade espacial entre as classes, mas com barreiras físicas e sistemas de controle.
De acordo com Ramiro Segura (2014), o espaço pode ser entendido como dimensão constitutiva da sociedade e reprodutor das desigualdades sociais, problematizando o que seria uma cidade 'globalizada' onde “muitas vezes se perdem de vista o agente causal possivelmente mais importante dos processos urbanos, o espaço mesmo da cidade”.
Referências
CÓRDOVA , Arnaldo. La Formación del poder político en México. 6. ed. México, 1978.
MUÑOZ, Humberto, OLIVEIRA, Orlandina de e STERN, Claudio. Migraciones internas a la ciudad de Mexico y su impacto sobre el mercado de trabajo. 1978.
SEGURA, Ramiro. El espacio urbano y la (re)producción de desigualdades sociales. Working Paper No. 65, 2014. http://www.iai.spk-berlin.de/fileadmin/dokumentenbibliothek/desigualdades/workingpapers/65_WP_Segura_Online.pdf
SCHUCKING, Rainer Godau; MÁRQUEZ, Viviane B. de. O Estado, a sociedade e a empresa privada no México. Revista de Administração de Empresas, v. 21, n. 3, p. 35-49, 1981.