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A fábula do progresso no contexto de Detroit

Grandes transformações sociais marcam tanto um final quanto um começo. Nas mudanças estruturais dos últimos vinte anos (entre 1970 e 1990, quanto a fonte em questão foi escrita), americanos vêm debatendo para definir quais elementos de suas vidas serão destruídos para sempre e quais estão em processo de serem criados. Rapidamente fugindo de suas mentes está a noção de prosperidade industrial, antes garantida pela dominação dos EUA sobre a economia global, e uma noção de estilo de vida de “classe média” cuja ideia era difundida como sendo algo acessível através de habilidade e trabalho, porém em seu lugar aparecem sombras de grandes fortunas fantasmas, insegurança e fragmentação.


Ainda na década de 1950, quando Joseph Schumpeter escrevia sobre a destruição criativa do capitalismo, ele evidentemente não se referia a pequenas comunidades que implodiam e dela surgiam algo mais tecnológico, mas argumentava a favor da ideia de que este fator intrínseco e essencial mais caro ao capitalismo é uma inovação recorrente. Ou seja, sempre haveria um novo produto, nova organização, ou nova conexão entre oferta e demanda que “incessantemente revolucionaria a estrutura econômica a partir de suas vísceras, destruindo a anterior e criando algo novo, perpetuamente”. Desta forma, há então uma forma de ônus que sempre recai sobre aquele incapaz de se reinventar e competir, no entanto este “processo natural de declínio” que mata e afunda antigas companhias obsoletas compensa abrindo espaço e base para que novos homens se levantem. Assim, haveria um ciclo vicioso da vida econômica onde os fluxos ascendente e descendente garantiriam a existência permanente de mobilidade social. Schumpter então descreve as “castas altas” como um hotel, que está sempre lotado, porem seus ocupantes estão sempre em rotação.


Esta fábula de progresso, no entanto, vem sendo difícil de sustentar na cabeça do norte americano, principalmente a partir do pós-guerra. Sabemos que as companhias norte-americanas passaram a ter de competir com concorrentes mais baratos e mais planejados, estas companhias tiveram de recorrer a sua anterior escala local e uma multinacional (ainda nessa etapa neste período em questão) para poderem sobreviver, abandonando assim sua fixação em sua origem e a expandindo seus grandes braços a nível mundial. Estas mudanças constantes de territorialidade, assim como a constante mecanização do trabalho, desencadearam pesados custos sociais.


Fábrica da GM em Detroit (o pouco que sobrou dela em Detroit)


Muitas das estruturas que antes delimitavam o funcionamento econômico passaram a nesta época ficar desbaratadas, a exemplo do trabalhador que passa a não ter valor daquilo que é capaz de produzir, mas por aquilo que é capaz de consumir. Desta forma, caminhamos a um cenário completamente diferente de paisagem do poder econômico: bancos passam a ser independentes da indústria que financiam; centros de comando estão isolados do chão de fábrica que controlam (permitido pelo avanço tecnológico), a riqueza concentrada antes nos centros urbanos dilui-se a seus arredores, e este antigo centro “abandonado” pela indústria é sangrentamente disputado pelo mercado imobiliário, e pela criação de espaços de consumo, a sociedade dos serviços toma conta do que já fora o território da produção.


BIBLIOGRAFIA:

ZUKIN, Sharon. 1993. Landscapes of Power: From Detroit to Disney World. In: http://www.gm.com/index.html , acessado em 19 de outubro de 2016.


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