Santiago: reflexos do global
Figura 1 – Os sete tipos de cidades globais
Em um levantamento realizado em outubro de 2016 pela Global Cities Initiative (um projeto conjunto entre o Instituto Brookings e o JP Morgan Chase), Santiago aparece nessa tipologia das cidades globais enquanto uma “emerging gateway” – uma porta de entrada emergente. É interessante de se observar que esse estudo leva em conta o desenvolvimento econômico, a produtividade, o grau de globalização (via investimentos externos diretos), a inovação, a escolaridade da mão-de-obra e a conectividade global. Dentro de todos esses parâmetros, Santiago figura enquanto um dos 28 centros desse tipo, caracterizado por ser um elo de ligação entre um mercado global e um mercado nacional ou regional.
Na América do Sul, caracterizado pelas cidades emergentes, Santiago assume um papel de protagonismo, junto com São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Nesse contexto de globalização, essas cidades sul-americanas fazem parte de um seleto grupo das denominadas cidades globais que são responsáveis por um terço da produção econômica mundial, quase dois terços de todas as inovações e 80% dos investimentos em alta tecnologia – mesmo sendo responsável por 13% da população mundial. Mas esse protagonismo todo, sobretudo sobre o Chile e os mercados regionais, reflete de que maneira sobre a população santiaguina?
Com essa preocupação, uma compilação de estudos realizados no Chile ao longo da primeira década do século XXI tem como cerne de discussão justamente essa questão. O livro Santiago en la globalización: ¿una nueva ciudad? mostra uma cidade que ganhou o rótulo de global, mas que se tornou cada vez mais segregada, com regiões de contrastes econômicos ainda maiores e uma mutação na fisionomia da cidade que culminou na obsolescência de certos espaços frente às novas centralidades.
Figura 2 – Esquema proposto por De Mattos (2004) sobre a metamorfose santiaguiana a partir da globalização
Uma crise urbana santiaguina também é salientada por Casgrain (2014) que baseia sua análise em três vértices: o primeiro diz respeito à expulsão das camadas mais pobres em direção às periferias, refuncionalizando as áreas centrais para uma classe média e média-alta emergente e a entrada do capital financeiro na cidade; o segundo fala da liberalização do mercado do solo em um ordenamento territorial flexível, o que causou um boom imobiliário capitaneado por um urbanismo pró-empresarial; e o terceiro, uma síntese desses dois primeiros que é traduzida pelos bolsões de pobreza que giram em torno da áreas mais valorizadas da cidade, onde a classe mais pobre vive à sombra e à mercê de uma classe de pequenos e médios proprietários rentistas.
Referências:
CASGRAIN, Antoine. Gentrificación empresarial en el centro de Santiago: contradicciones en la producion del espacio residencial. In: HIDALGO, R.; JANOSCHKA, M. La ciudad neoliberal: Gentrificación y exclusion en Santiago de Chile, Buenos Aires, Ciudad de México y Madrid. Santiago: Instituto de Geografia de la Pontificia Universidad Católica de Chile, 2014.
CITYLAB. What Globalization and Urbanization Mean for Cities. Disponível em: <http://www.citylab.com/work/2016/10/the-seven-types-of-global-cities-brookings/502994/>. Acesso em: 22 out. 2016
DE MATTOS, Carlos; DUCCI, María Elena; RODRÍGUEZ, Alfredo; YÁÑEZ WARNER, Gloria (editores) Santiago en la globalización: ¿Una nueva ciudad? Santiago: Ediciones SUR, 2004. Disponível em: <http://www.sitiosur.cl/r.php?id=16>. Acesso em: 22 out. 2016