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A produção industrial na lógica da acumulação flexível O caso da GM em Gravataí

O município de Gravataí foi anexado à Região Metropolitana de Porto Alegre em 1973 e, a partir deste momento, foram estabelecidas políticas públicas para atrair investimentos industriais, reorganizando assim o cenário econômico e espacial de Gravataí, que passa, em poucas décadas, de uma cidade-dormitório para uma cidade com a dinâmica da instalação de um complexo industrial automotivo de uma Multinacional, a General Motors (GM).


Uma observação pontual realizada foi o tipo de produção que ocorria no complexo industrial citado, pois este é o primeiro no Brasil a utilizar o sistema just in time em substituição do modelo fordista de produção pela GM, como é descrito no site da empresa: “Pela primeira vez, no Brasil, a GM teria uma fábrica de veículos que optaria pelo sistema modular e deixaria de lado a montagem peça por peça”. O sistema modular descrito refere-se aos módulos multifuncionais, compostos por maquinários e tecnologias capazes de realizar diferentes tarefas no processo produtivo dos automóveis.


A passagem da produção industrial fordista para o regime de acumulação flexível alterou não somente o modo de produção no interior da fábrica e sua planta, como também as relações esta desenvolve com o entorno de onde esta localiza-se. Na produção fordista, as estruturas organizacionais de produção em massa são fragmentadas, hierarquizadas e rígidas, o que demanda uma proximidade física das operações realizadas. A produção do automóvel estava, então, associada às aglomerações urbanas, como a fábrica da GM em Detroit, EUA. A atuação de uma multinacional em um município anteriormente sem grande expressão econômica revela uma das características da produção industrial sob a lógica de acumulação flexível, uma vez que esta se configura através de circuitos espaciais de produção articulados em redes, nos quais uma pequena cidade pode estar mais relacionada a uma grande metrópole de outro país através do capital internacional, do que ao município vizinho.


A partir do sistema just in time o complexo automobilístico de Gravataí tornou-se uma referência na produção brasileira, iniciando um novo modelo de produção que se espalharia pelas indústrias automobilísticas do país posteriormente, como é citado pela GM: “Tal sistema acarretaria na conquista do melhor índice de produtividade entre as fábricas da GM no mundo. Dessa forma, o Complexo Automotivo da GM em Gravataí tornou-se referência para todas as unidades da corporação.” Tal modo de produção, característico da lógica de acumulação flexível, traz uma mudança nas plantas das fábricas, que se tornam menores. A mudança da localização das fábricas támbém ocorre, havendo uma redistribuição das plantas da capital para municípios mais afastados da região metropolitana devido ao aumento do preço da terra em Porto Alegre. Tais características só são possíveis devido a multifuncionalização do maquinário e o pouco estoque desse sistema. Como explicita Botelho:


“O just in time consistiria na forma de administração da produção industrial e de seus materiais, segundo a qual a matéria-prima e os estoques intermediários necessários ao processo produtivo são supridos no tempo certo e na quantidade exata. Consiste na redução dos estoques de matéria-prima e peças intermediárias, conseguido através da linearização do fluxo da produção e de sistemas visuais de informação (Kanban). Através dele, busca-se chegar a um estoque zero”



Figura 1: Parte da planta do complexo industrial automobilístico de Gravataí. Como pode ser observado, os “sistemas modulares” são independentes. Fonte: , Acesso em Out, 2016.


Dessa maneira, é possível inferir que o complexo industrial automobilístico brasileiro e o exemplo de Gravataí podem ser apreendidos para o entendimento das transformações no capitalismo contemporâneo, no que tange não só a economia, mas as relações sociais e ao espaço produzido e influenciado diretamente por elas.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BOTELHO, Adriano. Do fordismo à produção flexível: a produção do espaço num contexto de mudança das estratégias de acumulação do capital. 2000. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.


Dinâmicas e Territórios industriais em Gravataí. In Observatório Geográfico da América Latina. Disponível em: http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Geografiasocioeconomica/Geografiaindustrial/19.pdf, Acesso em Out 2016


Histórico do complexo industrial automotivo de Gravataí. Disponível em: http://www.ciag.com.br/menus.php?menu=46, Acesso em Out 2016.


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