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A Quebra de Detroit

No início do séc. XX, Detroit era um centro regional de manufaturas, mas nos anos seguintes, por conta do crescimento da indústria automobilística fordista que requeria pouca preparação para o trabalho, atraiu milhares de trabalhadores do Canadá, do México, Itália e do Sul dos Estados Unidos. O boom da produção bélica na Segunda Guerra Mundial acelerou ainda mais o crescimento da cidade que, entre 1900 e 1950 passou de pouco menos de 300 mil habitantes para 2 milhões de habitantes. O subúrbio de Detroit tomou sua forma peculiar porque a planície permitiu uma ocupação do espaço pouco concentradora, e os trabalhadores das fábricas compraram casas e sobrados com terrenos amplos em grandes ruas largas e longas linhas de ônibus. Os executivos, diretores e funcionários de alto escalão das empresas foram para bairros como Bloomfield Hills e Grosse Point, bem distantes dos bairros operários. Detroit atingiu seu limite geográfico no final dos anos 1930.


Figura 1.: Câmaras Municipais de Detroit. Fonte: http://www.detroitmi.gov/Portals/0/Maps/District/Detroit-Council-District-Map.pdf


O advento da indústria automobilística logo fez com que o sistema de transporte coletivo fosse sucateado, junto aos bairros mais antigos próximos ao centro, ocupados pela população negra, e a maior parte da verba pública era investida na construção de auto-estradas que cortavam as áreas mais antigas para chegar aos galpões e prédios de escritórios. A construção desse sistema rodoviário envolveu a demolição de quase 3 mil estabelecimentos entre igrejas, escolas, casas, com apenas 30 dias de aviso prévio e com insuficiente assistência aos cidadãos negros desapropriados para a construção da Via Expressa Edsel Ford.


A Ford, a Chrysler e a General Motors conseguiram o oligopólio automobilístico na cidade, e logo começaram a construir dezenas de novos galpões na região metropolitana de Detroit, e a sua maior unidade, a de River Rouge, passou de 90,000 trabalhadores para apenas 30,000, por conta da descentralização e automação do trabalho.


Figura 2. O Complexo de River Rouge, em Detroit. Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Ford_River_Rouge_Complex#/media/File:River_Rouge_aerial_4a25915r.jpg


As mudanças tecnológicas, a automação da indústria, a necessidade de diferentes espaços para a produção, as mudanças nas políticas de impostos e a construção do sistema rodoviário fizeram com que o centro perdesse 150.000 postos de trabalho para o subúrbio e as taxas de demissões chegassem a 10%. Companias grandes como a Hudson ou a Studebaker saíram completamente do negócio.


O espalhamento da indústria depois dos anos 1950 para países como Canadá, México, Brasil, fez com que muitas fábricas no centro de Detroit começassem a fechar, junto aos estabelecimentos comerciais dos subúrbios que sobreviviam do consumo dos operários. As fábricas não eram atrativas para investimento imobiliário por conta do alto nível de poluição, cercadas por comércio fechado e casas abandonadas. Isso piorou durante os anos 1970 e 1980, quando as indústrias americanas quase faliram por conta da competição das marcas japonesas que cresciam no mercado.


Figura 3. Edifício abandonado em Detroit. Fonte: http://www.wsj.com/articles/SB122703743712238225


Diversas tentativas de recuperar o crescimento industrial foram feitas em Detroit, com muito incentivo financeiro do governo, como a Detroit/Hamtrack Assembly, com um galpão da Cadillac, ou a Jefferson North Assembly, da Chrysler, que empregaram mais de 6 mil operários, embora tenha sido insuficiente contra a nova tendência mundial da indústria, levando a cidade à falência em 2008.


BIBLIOGRAFIA:

SUGRUE, Thomas (2004). "From Motor City to Motor Metropolis: How the Automobile Industry Reshaped Urban America". Automobile in American Life and Society. University of Michigan - Dearborn. Retrieved December 13, 2013;

SUGRUE, Thomas J. (2005). The Origins of the Urban Crisis: Race and Inequality in Postwar Detroit. Princeton University Press;

BINELLI, Mark (2012-11-09). "How Detroit Became the World Capital of Staring at Abandoned Old Buildings". The New York Times.


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