Disparidades espaciais de uma Cidade do México global e local – parte 2
De acordo com Milton Santos, as cidades modernas, enquanto objetos de transformação, passam por modificações que permitem agilizar determinadas áreas conforme as necessidades das novas formas de economia.
“ A cidade é objeto de um processo incessante de transformações que atingem aquelas áreas necessárias à realização das atividades modernas de produção e de circulação. Já que os recursos disponíveis ou trazidos de fora são orientados para essas transformações, o resto da aglomeração não recebe cuidados, sendo essa diferença de tratamento um dos fatores da crise ambiental” (SANTOS, pg. 37)
Nesse sentido, é possível atribuir à delegación Miguel Hidalgo (Polanco e Lomas de Chapultepec) uma seletividade técnico-científica-informacional que a coloca ligada diretamente com outras regiões do mundo e, mesmo sendo um espaço diminuto em comparação à totalidade da cidade, consegue expressar um aspecto dominante sobre as demais regiões.
“Espaço minoritário dentro da aglomeração, espaço não dominante do ponto de vista da extensão, é, todavia, o espaço dominador dos processos econômicos e políticos, cuja lógica implacável se sobrepõe e comanda a dos demais subespaços quantitativamente dominantes na paisagem, mas qualitativamente subordinados quanto às funções” (SANTOS, pg. 37)
Ao tratar sobre as grandes cidades do Terceiro Mundo, Santos explica que apesar dessas cidades serem “rígidas” em sua vocação internacional, são flexíveis por um “meio ambiente construído que permite a atuação de todos os tipos de capital”.
“O planejamento urbano, sobretudo se obediente aos parâmetros das chamadas cidades internacionais, termina por estabelecer as condições de uma modernização sempre mais atual, negligenciando a maior parte da cidade e da população, o meio físico e humano, onde se criam os empregos endógenos” (SANTOS, pg. 39)
A Cidade do México, assim como outras grandes cidades, apresenta localidades que se integram a outras regiões mundiais por meio do mercado. Locais como Polanco funcionam como “plugs” dentro do sistema global. No entanto, esses espaços acabam por concentrar privilégios que não se expandem para o restante da metrópole, o que faz Iztapalapa e Gustavo A. Madero, como exemplos, não participantes de um padrão de “cidade global”.
Metrô
Apesar de certos locais serem privilegiados em detrimento a outros, o metrô da Região Metropolitana da Cidade do México possui 195 estações em mais de 200 kms de rede. É possível ir de Metro para grande parte do México D.F. e também às cidades ao seu entorno. Nesse caso, a metrópole estendida possui meios para que a circulação de pessoas aconteça em seu espaço. A tarifa custa 5 pesos (cerca de R$0,84) e em certos pontos é possível fazer integração com trólebus. Em algumas ocasiões é adota tarifa zero no Metro para incentivar as pessoas a deixarem os carros em casa, ajudando no trânsito e, principalmente, na poluição, dois problemas latentes da cidade.
Esta circulação por meio de localidades integradas pelo Metro, por um lado, permite que as pessoas tenham um acesso mais amplo à região, porém, em seu conjunto, revela uma condição de bairros ou cidades dormitórios, como o caso de Nezahualcóyotl (cidade vizinha ao DF). O município de “Neza”, grande fornecedor de mão de obra para outros locais, tem uma população de 1,136,000, onde 38.8% vivem na pobreza, sendo o município mais densamente povoado do México com 17,5 mil habitantes por km².
Mapa Metro da Região Metropolitana da Cidade do México. Fonte: AICM
Ciudad Nezahualcoyotl. Foto: Rodrigo Cruz
Referências
Cidade do México adota passe livre para baixar os níveis de poluição, Gazeta do Povo. Acessado em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/futuro-das-cidades/cidade-do-mexico-adota-passe-livre-para-baixar-os-niveis-de-poluicao-87b1dwmvp4bbb0ecttqcoikbc
Ciudad Neza, una historia de contrastes. National Geographic En Español. Acessado em: http://www.ngenespanol.com/fotografia/lo-mas/11/10/03/ciudad-neza-historia-contrastes/
Informe Anual Sobre La Situación de Pobreza y Rezago Socia. Nezahualcóyotl, México 2014. Acessado em: http://www.sedesol.gob.mx/work/models/SEDESOL/Informes_pobreza/2014/Municipios/Mexico/Mexico_058.pdf
SANTOS, Milton. Técnica Espaço Tempo. Globalização e meio técnico-científico e informacional. São Paulo, Hucitec, 2004. Cap. 6 A forma e o tempo: a história da cidade e do urbano, Cap. 7 Meio ambiente construído e flexibilidade tropical.