top of page

No norte, especulação e resistência ao apartheid

Alexandra, com Sandton ao fundo. Agosto de 2013. Foto: Reuters

Em seu processo de espraiamento horizontal, Johanesburgo encontrou pelo caminho a resistência de um de seus subúrbios mais antigos, Alexandra. Alex, como é conhecido o bairro, é um enclave de pobreza extrema onde vivem mais de 170 mil pessoas espremidas em uma área de cerca de 2 quilômetros quadrados, localizada 12 quilômetros ao norte do centro. Espremido entre a N3, tronco rodoviário nacional que liga a terceira maior cidade sul-africana, Durban, a Johanesburgo, e Sandton, o bairro que hoje personifica o capitalismo financeiro global na África do Sul – e que chegou bem depois.


A história de Alexandra começa nos primeiros anos do século 20, quando Johanesburgo já começava a se fixar como centralidade urbana apoiada na mineração do ouro. Inicialmente uma fazenda, começou a se constituir como núcleo urbano quando o então dono das terras, S. Papenfus, loteou e vendeu parte da propriedade a famílias negras em 1912, apenas um ano antes da primeira lei declaradamente segregacionista no país, o Land Act de 1913, que proibia o comércio de terras entre brancos e nativos na África do Sul.


Com proprietários de terras nativos, Alexandra se constituiu em um núcleo de resistência ao apartheid. Sob a justificativa da superpopulação – em 1942, eram entre 80.000 e 100.000 moradores, enquanto o número de moradias suportava 30.000 – várias tentativas de remover a população negra de Alexandra foram feitas ao longo da história do bairro. Remoções para o Soweto e Tembisa foram feitas, sob resistência. Em 1948, a explosão demográfica passou a ser administrada pelo Conselho de Saúde Peri-Urbano. Nas décadas de 1970 e 1980, hospedagens coletivas chamadas de hostels foram construídas no bairro, para abrigar até 2.500 moradores solteiros, com separação entre homens e mulheres.


Enquanto isso, a especulação imobiliária empurrada pelas novas necessidades da acumulação flexível do capitalismo levava Johanesburgo para o norte. Em Sandton, a inauguração do shopping center Sandton City em 1973 deu início a uma nova centralidade urbana e à transformação da área em distrito financeiro – hoje, cerca de 10 mil empresas têm escritórios no bairro e as redes hoteleiras mais importantes construíram edifícios modernos antes da Copa do Mundo de 2010. Sandton atualmente é conhecido como o metro quadrado mais caro da África do Sul.


Sandton e Alexandra hoje estão conectados ao centro da metrópole de Johanesburgo pela N3, e a Pretoria, a capital administrativa da África do Sul, que fica 50 quilômetros ao norte, por outra rodovia nacional, a N1. Os dois distritos também são servidos pelo Gautrain, sistema de ferrovias que conecta o centro de Johanesburgo, o aeroporto internacional OR Tambo e Pretoria. Ao logo dos dois modais de transporte entre Johanesburgo e Pretoria está a área mais urbanizada da África do Sul – uma sequência de rupturas no tecido urbano que se constitui, no plano das dinâmicas e processos, em integração espacial (SPÓSITO, 2007).



Referências


Mail & Guardian. Where the heart is: South Africa’s post-apartheid housing failure. Disponível em <http://mg.co.za/article/2013-08-02-where-the-heart-is-south-africas-post-apartheid-housing-failure>. Acesso em 26 de outubro de 2016


SPÓSITO, Maria Encarnação Beltrão. Novas formas de produção do espaço urbano no Estado de São Paulo. Em Brasil – Estudos sobre dispersão urbana. FAU/USP, 2007


Why Alexandra survived the apartheid. Disponível em <http://www.joburg.org.za/index.php?option=com_content&task=view&id=888&Itemid=192>. Acesso em 26 de outubro de 2016




POSTS RECENTES
bottom of page