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Porto Maravilha: draga do amanhã


Fonte: POSTIMG

A viabilização da entrada e saída de mercadorias e a função de controle alfandegário garantiram ao porto da cidade do Rio de Janeiro o protagonismo no sistema de transporte brasileiro durante séculos. Seja pela natural proteção da Baía de Guanabara, seja pelo braço forte de governos e das forças armadas, a relevância da operação portuária é inegável e persiste como ponto logístico que, no entanto, tem que se transformar.


Buscar a conformidade com um sistema produtivo que prescinde de contato físico direto constante, como é a acumulação flexível, posa como grande desafio para as formas já fixadas – especialmente em uma cidade concentrada como a capital fluminense. Permitir que um novo papel seja destinado à área é um processo demorado e pouco interessante ao mercado imobiliário durante os últimos anos do século XX – que não se interessa em vender por valores baixos, deixa que definhe para comprar mais barato, e busca sim vender após a intervenção do Estado.


A zona portuária é um fixo relevante para as funções mercantis desempenhadas, e ao seu redor a sociedade institui relações humanas não menos importantes, que respondem imediatamente aos estímulos materiais percebidos: a cada prédio comercial abandonado surge uma comunidade disposta a habitar o espaço; toda a degradação física é seguida de uma resposta social – viver ali porque não custa.


O sonho da cidade espetáculo suplanta, em muito, o “skyline” carioca. Para ser síntese de um país que retoma o crescimento econômico no início do século XXI não basta a singularidade da paisagem natural, é necessário extirpar as ligações com a anterior ordem espacial. O Porto Maravilha dá ao carioca o bilhete – pago pelo povo – para o novo circuito espacial produtivo. A ordem política e econômica dominante associam-se e correspondem ao novo ordenamento territorial, no qual a miséria é aceitável quando elemento turístico-folclórico, e a violência permitida desde que assole somente o pobre.


A modernização do porto não é deixada de lado, pois tem também seu papel na valorização do espaço. São muitas as obras iniciadas ou planejadas, como a modernização dos terminais de contêineres, permissão para plataformas logísticas e multiterminais, obras para aumento da capacidade de operação e calado de navios, e mesmo transferência de funções para outros portos como Sepetiba/Itaguaí e a instituição do Arco Metropolitano.


Se os armazéns já são área de entretenimento e as fundições transformaram-se em casa de shows, o mesmo não se pode dizer – na prática – das pessoas e casas que ali habitam. O flanelinha não deixa o ofício pelo posto de engenheiro automotivo, e seu barraco continua o mesmo, apenas uns tantos quilômetros ao norte ou noroeste da cidade. O novo morador pagará em dinheiro.


As retroescavadeiras encontraram resquícios materiais de um Brasil colonial e entregaram o terreno plano para o soerguimento do Museu do Amanhã. Foram, porém, incapazes de encontrar uma base material suficiente para um hoje mais justo.



Referências


“Porto Maravilha: começou mal e pode piorar” de 04/04/2011, acesso em 27/10/2016. https://raquelrolnik.wordpress.com/2011/04/04/porto-maravilha-comecou-mal-e-pode-piorar/


PINTO, Juliana Lopes: “O “Porto Maravilha”: antigas repetições e novos desafios na “revitalização” da zona portuária do Rio de Janeiro” acesso em 27/10/2016 http://www.peu.poli.ufrj.br/arquivos/Monografias/Juliana_Lopes_Pinto.pdf


Cais do Valongo. Acesso em 26/10/2016 http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/818




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