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Agentes modeladores de Salvador colonial

Os conceitos atuais para a compreensão das cidades não dão conta de ilustrar as especificidades e complexidades das cidades colônias escravagistas. O Brasil inseria-se no contexto geográfico mais amplo do Império Lusitano, o que nos aproxima ou diferencia das demais cidades portuguesas. A urbanização portuguesa, diferente da rigidez espanhola adaptava-se às condições locais e seus habitantes. (HOLANDA, 1988).

Para Vasconcelos (1996) os principais modeladores são: 1- a Igreja; 2- as ordens leigas; 3- o Estado; 4- Agentes econômicos; 5- a população e os movimentos sociais. Desta forma, exemplificaremos como estes agentes modeladores estiveram presentes em Salvador colonial.

A Igreja católica tinha um acordo com a Coroa portuguesa, enquanto à Coroa cabia a distribuição das sesmarias a administração das cidades e vilas ficava ao cargo da Igreja, sendo esta dona de muitas terras e bens. Ela dividia-se em duas hierarquias, a do clero secular composta por bispos e arcebispos e o clero regular que trabalhava diretamente nas comunidades.

Em Salvador os jesuítas instalaram-se perto dos núcleos iniciais da cidade, beneditinos e carmelitas que chegaram posteriormente estabeleceram-se extramuros da cidade. Tal fato devia-se à necessidade de grandes propriedades para suas atividades, assim localizados nas periferias nos finais dos eixos urbanos, acabavam atraindo a expansão das cidades.

Em Salvador o papel de atração ao norte foi exercido pelos carmelitas e ursulinas (Soledade), no sul pelos beneditinos e ursulinas (Mercês), na periferia leste pelos franciscanos e franciscanas (Desterro).

Os franciscanos apesar do voto de pobreza decoraram o interior da igreja mais opulenta do Brasil em Salvador. No seculo XVIII o convento do Desterro em Salvador era proprietário de mais de cem imóveis de aluguel, destacando-se o número de escravas.

As Ordens Terceiras eram independentes, mas intimamente ligadas à Igreja Católica, dentre os vários objetivos destacavam-se a ajuda mútua, caridade coletiva, funcionamento como banco e realização de empréstimos. Outras irmandades existiam ligadas à profissão, grupos sociais e subdivididas por sexo.

Em Salvador as Igrejas da Rosário dos Pretos e da Barroquinha, de irmandades de cor, localizavam-se imediatamente fora dos muros da cidade.

Em Salvador chegavam diretamente as ordens régias para o Governador-geral e Chefe das armas. Havia o Tribunal Civil (Relação) e as repartições ligadas às finanças (alfândegas, casas da moeda etc). A primeira praça da Salvador possuía o Palácio do Governador-geral, Senado da Câmara e no século XVII o Tribunal da Relação.

O Estado estava sempre preocupado com a construção de fortes de defesa nas áreas de costa e fronteira. Os fortes do Barbalho ao norte e São Pedro o sul foram polos nos dois eixos de crescimento de Salvador.

Finalmente, os proprietários rurais fixavam suas casas geralmente na cidade Alta, enquanto comerciantes fixavam-se na cidade Baixa próximos ao porto. Ocorreram no período algumas revoltas populares e a resistência em quilombos, porém todos foram duramente combatidos pelo exército não obtendo o êxito desejado.

Bibliografia:

Vasconcelos, Pedro de Almeira. Os agentes modeladores das cidades brasileiras no período colonial. Em Castro, I. E; Gomes, P. C. C. e Correa, R. L. (orgs) Explorações Geográficas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1996

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