Recife: uma cidade plantada à beira do mar e à beira do rio
A cidade de Recife traz a história em cada passagem de seus rios, pontes, ilhas, canaviais, portos, vilas e manguezais. As vidas nas terras abrigadas pelos povos nativos passam a enfrentar profundas transformações a partir do século XVI. Em 1534, o rei de Portugal D. João III, criou um sistema de administração territorial chamado de Capitanias Hereditária. A administração da Capitania de Pernambuco foi atribuída por Carta de Doação ao Capitão Donatário Duarte Coelho Pereira. Com o aumento da produção nos engenhos e consequentemente das atividades portuárias, a Povoação dos Arrecifes foi desenvolvendo-se. Tal crescimento atraiu olhares estrangeiros, resultando na tomada da região pelos holandeses.
A povoação do Recife, no ano de 1637, sob domínio holandês, passa a chamar-se Mauritsstad, em homenagem a Maurício de Nassau. Entusiasta da ciência e das belas artes, Maurício de Nassau trouxe uma plêiade de naturalistas, pintores, arquitetos, engenheiros e paisagistas que deram um ar de metrópole à cidade do Recife. Conduziu uma revolução urbanística com o plano de construção da “Cidade Maurícia”, ruas foram planejadas e traçadas, aterros, palácios, escolas, estradas, o primeiro Jardim Botânico do país e até um observatório astronômico. A primeira ponte das Américas foi construída em 1643, chamada de Ponte Nassau. Recife ficou conhecida como a capital dos Rios e das Pontes, existem hoje mais de 40 pontes, sendo que 7 delas cortam o centro do Recife, ligando suas 3 ilhas: Ilha do Recife Antigo, Ilha de Santo Antônio e Ilha da Boa Vista.
Imagem das pontes e dos rios - Centro de Recife Séc. XXI
Foi, também, pelo porto que Recife tornou-se um ponto de encontro de povos e de circulação de mercadorias. Um mosaico, em função do velho ancoradouro situado entre os arrecifes¹ de arenito e a península, onde se misturavam as águas do mar e dos rios. Recife dos navios, essa cidade plantada à beira do mar e à beira do rio.
Imagem do Porto de Recife no século XVII
A cidade de Recife é a foz de dois importantes rios, Capibaribe e Beberibe. Muito por conta do solo massapê existente na várzea dos rios, próprio para o cultivo da cana-de-açúcar, que se formaram os primeiros engenhos do Nordeste. Além de também servir de acesso para o desenvolvimento da pecuária no Agreste e Sertão.
A história se passa pelos senhores, pelos engenhos, pelo suor do trabalho escravo, ao sol quente do canavial, perpassa pelos pescadores e homens do mar, nas estreitas porções de terra, dos pesados veleiros que refrescavam-se em águas bem abrigadas, buscando a sombra dos arrecifes. Recife traz consigo a história de uma vila simples que cresceu e ganhou nome de metrópole. Hoje, seu asfalto cinza urbano não deixa de brotar suas contradições. Seu passado recente insiste em persistir, na raiz de um desenvolvimento - uma urbanização inconsequente - uma cidade das marcas das mãos dos trabalhadores em meio ao sangue das mãos dos ainda senhores.
Notas:
1. No foral - carta de direitos feudais - de Olinda, há referência a “Arrecife dos navios”, um lugarejo habitado por mareantes e pescadores.
Referências
VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Os agentes modeladores das cidades brasileiras no período colonial. Em CASTRO, I. E., GOMES, P. C. C. , CORREA, R. L. (Orgs.) Explorações Geográficas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1996.
RECIFE, PERNAMBUCO. Disponível em: <http://www.recifepernambuco.com.br/> Acesso em 02 de Nov de 2016.