San Jeronimo e as formas históricas de Assunção
“Nós na América somos muito mais geográficos que históricos”
Solano Benitez, arquiteto
Nossas discussões sobre a cidade de Assunção tem se fundamentado em analisar a reprodução das formas imperialistas e de como no cenário urbano esse processo se intensifica, elucidado a partir dos dados estatísticos, das formas espaciais, da questão industrial e do cotidiano da cidade. A partir da historia do desenho urbano de Assunção discutiremos a importância de San Jeronimo como o exemplo de um espaço resistente.
A primeira formação urbana de Assunção se organizou de modo distinto ao de outras cidades latinoamericanas colonizadas pelos espanhóis. Era estabelecido que os traçados das cidades fossem organizados a partir de uma praça, que instituiria a ocupação territorial espanhola, marcada por uma edificação ou edificações representantes do poder religioso, político e/ou militar. A partir dessa centralidade, a estrutura urbana seria traçada de forma reticular, com as ruas principais estruturadas perpendicularmente aos rios. Mas, o relevo de Assunção, conhecida como a cidade das sete colinas, como exemplificado na imagem abaixo, e os conflitos com os guaranis e outros povos que ainda ocupavam a região, fez com que a cidade se concebesse espontaneamente, fazendo referência à lógica de ocupação desses povos indígenas e até mesmo das cidades europeias medievais.
A Imagem representa um mapa produzido em 1809, por Felix Azara. Fonte: TIMERIME.
A cidade possuía essa formação inicial até por volta de aproximadamente 1821, quando o ditador, Dr. José Gaspar Rodriguez de Francia, resolve reticular a cidade, o que aponta um período de grandes obras em Assunção que geraram um grande transtorno urbano, com inúmeras casas e comércios que haviam sido demolidos que intensificou problemas sociais e econômicos. Quando Carlos Antonio López assume a presidência do Paraguai ele resolve fomentar a cidade trazendo imigrantes europeus e nesse período são construídos os monumentos históricos como a Casa Ballario de estilo neoclássico em 1901, o Palácio de Los Lópes edificado em 1857, a antiga estação de trem, inaugurada em 1864, o Panteón de Los Héroes que se constituíram na fase em que a forma espacial da cidade já estava retificada.
Apesar de permanecer os monumentos históricos da época em que a cidade possuía uma forma espontânea, como a Casa Viola de 1750-1758, a Casa Castelví, construída em 1804, e a Casa da Independência erguida em 1772, que possui um grande valor histórico, esses monumentos não trazem em si a critica a urbanização de Assunção e ela se expressa no bairro de San Jeronimo, como a imagem abaixo ilustra sua localidade, forma e estrutura.
A imagem ilustra roteiros turísticos da região. Fonte: Circuitos ACC
A permanência espacial do bairro San Jeronimo revela que mesmo com as decisões de agentes hegemônicos da esfera política e econômica na escala local e global é possível resistir aos processos de implosão-explosão do urbano, como teorizado por Henri Lefebvre. É possível resistir à homogeneidade e às tendências efêmeras do cotidiano de qualquer cidade urbana que esteja ligada a essa rede de tensões globais.
Sugerimos que assistam “Asunción, fin de la expedición - Paraná Biografía de un Río” indicado nas referências.
Acesso em 02.11.2016
Referências
Circuitos ACC. https://circuitosacc.net/directorio/mapas/
LÉFÈBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.
JACINTO, Janério Manoel e MENDES, Cesar Miranda e RIBEIRO, Paulo Sergio Contribuições sobre a produção do espaço urbano e a (re) organização espacial da cidade de assunção capital do Paraguai.
TIMERIME. http://timerime.com/es/evento/1997614/Integracin+del+Territorio+Nacional+1810-2006+Gonzalez+Alan+Carmona+Jua/