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Detroit e as Pradarias Urbanas

O fenômeno de pradaria urbana ocorre pela conversão de espaço urbano vago em espaço verde, com a demolição de antigas casas e construções, acarretando o crescimento de mato e a invasão da vida selvagem na área urbana; muitas vezes são parte de planos de revitalização urbana, ou demolições de construções para interromper atividade criminosa, ou ainda por falta de pagamento de impostos e hipoteca. Essas áreas verdes, em algumas outras cidades, possuem investimento e cuidado públicos, e acabam até virando parques. Em Detroit, não é bem assim.

Bairros abandonados em Detroit dando origem às pradarias. Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/46/Urban_prairie_Detroit_1.jpg>

Detroit está cheia de ruas onde esse processo tomou conta. Ruas com apenas uma casa ou duas, e lotes inteiros abandonados com mato alto, cheios de lixo, fazem cidade ter um aspecto, conforme descreve o historiador John Gallagher (2010), desocupado, com ruas-fantasma de aspecto rural onde a Natureza sai vitoriosa e cria uma paisagem rural dentro de uma cidade com milhões de habitantes. Esse é o maior problema de ocupação urbana de todos os tempos nos Estados Unidos, e ele escapa aos métodos usuais de planejamento urbano, pois esses vácuos imensos dentro da cidade resistem aos planos de construção de moradia, parques industriais, dentro de uma cidade que perdeu metade de seus habitantes dos anos 1950 para cá.

Os parques industriais possuem centenas de acres de extensão, e não existe ideia de planejamento urbano que saiba o que fazer com todo esse espaço e com o espaço dos antigos galpões de indústrias abandonados com árvores que passam por entre as ruínas, onde há latas de lixo sendo queimadas todos os dias por vândalos ou mendigos. Outra razão para a inviabilidade de opções é que o que uma vez foi o orgulho da cidade de Detroit – o fato de que todos os trabalhadores das indústrias podiam ter casa própria – é uma parte de seu fracasso.

Nem todos os bairros tem o planejamento urbano que Grosse Point, por exemplo, teve. Muitas ruas ainda têm casas precárias de madeira, com fundações malfeitas e maltratadas pelo clima úmido, pois foram construídas rapidamente pelos próprios habitantes, o que dificulta qualquer interesse que o mercado imobiliário ou a prefeitura possam ter para investir na reforma dessas ruas.

Outro problema de infraestrutura nesses lugares é a umidade do solo em si. As geleiras que, um dia, estiveram lá, deixaram uma camada de argila que retém muita umidade logo abaixo da primeira camada de solo, o que faz com que a percolação da água da chuva demore muito mais e o solo permaneça úmido. A maior pradaria urbana dentro de Detroit se deve ao programa de construção do Parque Industrial I-94, um projeto para tentar trazer uma faísca de crescimento econômico para a cidade outra vez. A prefeitura e diversos líderes cívicos compraram muitas casas, demolindo-as e adicionando essa nova área a um terreno público, para construir um grande parque industrial e trazer crescimento econômico para a cidade. No final, apenas um prédio foi construído, e assim se explica uma área de 189 acres totalmente vazia dentro de uma cidade.

Pradaria urbana “em construção”. Fonte: <http://tevadawson.com/wp-content/uploads/2013/07/urban-prairie-under-construction-5.jpg>

BIBLIOGRAFIA

GALLAGHER, John (2010). Reimagining Detroit: Oportunities for Redefining an American City. Wayne State University Press. Detroit, Michigan. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=xu4Cb3Dh-GEC&pg=PA24&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false>, acessado em 11 de novembro de 2016.

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