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A Manaus do século XX: um período de continuidades e novidades

Na oportunidade anterior, abordamos sobre as políticas adotadas na constituição da urbanização de Manaus até o século XIX, expondo fatos que permitiram compreender a consolidação de uma estrutura fundamental para o que viria no século seguinte, que será tema de nossa proposição dessa vez: a Manaus do século XX.


Dentro do período pré-século XX, um evento muito marcante foi o Ciclo da Borracha, um período áureo na região Amazônica em geral, gerando muitas riquezas que foram convertidas em investimentos urbanos de diferentes aspectos, com o planejamento da cidade sendo elaborado por engenheiros, que eram profissionais muito requisitados no fim do século XIX e início do século XX. A construção do tecido urbano manauara teve os modelos urbanísticos modernistas europeus como inspiração, o que podemos ver nas palavras de Lemos (2011, p. 3):


As melhorias urbanas realizadas nas principais cidades europeias, especialmente Paris, tiveram grande repercussão nas capitais amazônicas. Os princípios higienistas que arcavam as políticas urbanísticas europeias eram conhecidos pelas famílias abastadas da região norte [...] O contato constante com empresas, comerciantes e empreendedores ingleses também contribuiu para uma maior divulgação na Amazônia das ideias que marcaram o urbanismo europeu do final do século XIX.


As ideias higienistas, advindas da Europa, trouxeram a Manaus modificações no espaço citadino, tais como: construção de ricos prédios públicos, abertura e pavimentação de ruas, avenidas, parques, praças [...] jardins, alamedas e boulevards (LEMOS, 2011, p.3). É nítido que a modernização prometida chega somente através do consumo sem inclusão social.


Uma das mais importantes construções no início do século XX foi a dos bondes em Manaus. Após o advento da energia elétrica e com os trilhos assentados, esse meio de transporte constituiu um elemento muito importante não só na promoção do deslocamento, mas também, como nos afirma Lemos (2011, p. 15) na consolidação da sociabilidade da população de Manaus, pois envolveu o maior contato entre as pessoas através de seus trajetos diários.


Na segunda metade do século XX, a industrialização de Manaus adquire um viés mais intenso, pois a cidade fará parte dos planos da ditadura civil-militar de ampliar e expandir a industrialização por todo o território brasileiro, em um processo que culminará com a criação da Zona Franca de Manaus, como forma de estímulo ao estabelecimento de empresas na região.


Imagem 1 - Avenida Castelo Branco, na década de 1950.


O episódio da ditadura buscou ocupar e, desta forma, proteger a cidade de possíveis ameaças ideológicas. O legado da “Redentora” se concretizou em monumentos espalhados pelas ruas e avenidas, como por exemplo, o Conjunto Habitacional 31 de Março, data de comemoração do Golpe. Além disso, ocorreu mudanças em nomes de avenidas importantes, a título de exemplo, pode-se destacar o caso da Av. Uapés ter se tornado, durante o período, Av. Castelo Branco. Porém uma das grandes heranças, para a Manaus e o Brasil da época, foi: o medo de tocar no assunto tanto pela mídia como por moradores e pesquisadores. Pelo o que pressupõe-se, mesmo após 50 anos, fantasmas ainda nomeiam inimigos e perseguem nas ruas manauenses.

Dessa forma, apesar de trazer uma modernização, o período também precisava silenciar seus opositores para poder manter-se no poder, o que se refletia na nomenclatura das ruas de Manaus, por exemplo, como um instrumento ideológico de homenagem daqueles que governavam o país no regime ditatorial.


Imagem 2 - Índios Waimiri-Atroari desaparecidos durante a Ditadura Militar. Foto: Egydio Schwade.



Referências


LEMOS, Chelén Fischer de. Manaus iluminada pela borracha: mudança tecnológica e modernização urbana no final do século XIX e início do século XX. In.: XIV Encontro Nacional da ANPUR. Rio de Janeiro, Brasil, mai. 2011, pp. 1-19.


Fonte das imagens

Figuras 1 e 2: “Os signos da redentora: Manaus de ‘hoje’ e a ditadura militar de ontem”. Disponível em:

<http://www.almanaqueurupes.com.br/portal/wp-content/uploads/2013/04/av-castelo-branco-manaus.jpg>



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