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As transformações higienistas em Belém


Boulevard Castilhos França, em Belém (c. 1900)


Belém no final do século XIX, a partir de 1897, passa por uma grande transformação, inspirada na “Paris Haussmanniana”, sob a batuta do intendente Antônio José de Lemos, que fica à frente do governo da cidade até 1911 – portanto, 14 anos nos quais a cidade se torna um imenso canteiro de obras.


A influência da política higienista em Belém, na figura da classe médica como um todo e escudada na elite oriunda do boom da borracha, procura dar à cidade uma feição civilizadora, com franca inspiração europeia (principalmente da França) atuando diretamente na vida da população mais pobre.


Em 1912, o Dr. Américo de Campos publica um manual, chamado Noções Geraes de Hygiene, em que há todo um receituário de como cuidar não só da higiene com o próprio corpo, mas também com orientações lar adentro, influenciando nas relações sociais. Um exemplo: substituir o beijo pelo aperto de mão nas relações interpessoais. Uma verdadeira invasão de privacidade, porém com chancela oficial. Essa “revolução ou intromissão higienista” abarca também mudanças na cidade de Belém.


Há uma nova mentalidade no trato do urbano. Em 1905 é promulgada uma lei em que, entre outras determinações, sinalizava aos proprietários de prédios como eles deveriam alinhar essas construções às vias públicas, como efetuar as reformas de fachadas dos prédios existentes e até orientando a construção de platibandas.


Nem as fundações das moradias escaparam à ação higienista. Em função do tipo de solo da cidade, havia orientações de como essas fundações deveriam ser construídas para evitar a insalubridade.


Houve um combate, no âmbito do espaço urbano da cidade, aos “compartimentos insalubres”: os cortiços e os prostíbulos – neste último caso, com a criação do Instituto de Prophylaxia das Doenças Venéreas (em 1921), em nome da higienização da cidade.


Em suma, todo esse arcabouço de leis e manuais, visavam, no início do século XX, a disciplinar a vida da cidade e dos seus habitantes, dando à cidade de Belém um aspecto de metrópole, embora fosse uma cidade da região amazônica distante dos centros políticos, mas bem de acordo com a visão da elite econômica local.


Em tempo: pode-se fazer uma leitura da tentativa de retomada dessa visão higienista, a nível de Brasil, à época do regime militar com a criação de campanhas publicitárias em que a figura central, o Sugismundo, destinava-se a “incutir noções básicas de higiene e postura social” numa população cujo governo acreditava ser “desprovida dessas noções elementares”, portanto, não condizente com o slogan da época: “Um País que vai para a frente.”

Mercado Ver-o-Peso, em 1891


Mercado Ver-o-Peso, em 2015


Referência


SANTOS, Erica S. Almeida. As implementações médico-higienista de Belém no limiar do século XX. ANPUH: XXII Simpósio Nacional de História. Londrina, 2005. Disponível em: < http://anais.anpuh.org/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S23.0334.pdf>. Acesso em: 8 nov. 2016.


Fotografias


Boulevard Castilhos França: IBGE: Belém. Disponível em: <www.cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?codmun=150140>.

Mercado Ver-o-Peso, antes e depois: Belém antiga. Disponível em: <http://belemantiga.blogspot.com.br/2015/09/ver-o-peso-antes-e-depois-1893-e-2015.html>.



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