top of page

Rio 2016: do outro lado do muro olímpico

O Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, local de extrema pobreza, apresenta um muro de tapume que tenta torná-lo invisível à sociedade local. Quem chega do aeroporto do Galeão “não vê” a falta de estrutura para o esgoto que escorre pela superfície do solo, represando em um grande lago fétido. Apesar da “cidade maravilhosa” ter sido a sede dos Jogos Olímpicos, poderia se camuflar tamanha desigualdade, ou a tornaria mais evidente?


As obras feitas para o acontecimento demonstraram uma preparação para se obterem resultados (e, principalmente, lucros), porém, a precariedade do resultado final tornou bem visível a dualidade econômica. O Rio atravessa um período de crise econômica e serviços de educação, saúde e segurança ficam comprometidos.


Alguns operários trabalharam sem registro na carteira, obras que saíram atrasadas e algumas ficaram danificadas pelo clima e água do mar, isto é, sem nenhuma resistência ao meio ambiente. Estes foram alguns dos acontecimentos que ocorreram durante o período em que se faziam as reformas urbanas. Entretanto, apesar da gravidade das ocorrências não se pode esquecer que tudo faz parte de um projeto bilionário e que os beneficiados serão bem poucos.


As grandes empreiteiras como a Odebrecht, Andrade Gutierrez e OAS, todas investigadas na Operação Lava, foram as administradoras de uma imensa quantidade de obras. O prefeito Eduardo Paes, por dirigir a reforma urbana, comparou-se ao prefeito Pereira Passos que no inicio do século XX, com a ajuda de seu urbanista Haussman, alargou as vias do centro do Rio, influenciado pela arquitetura dos bulevares de Paris da Belle Époque. Paes colocou à disposição de especuladores imobiliários os prédios com espelhos e hotéis de luxo.


O principal motivo desta analogia entre os dois períodos históricos seria que Passos retirou 20.000 moradores dos cortiços que buscaram os morros cariocas para construírem suas casas. A população carioca da época não chegava a um milhão de habitantes. Entretanto, na gestão de Paes, 77.000 pessoas perderam suas casas por causa das reformas urbanas para os eventos esportivos da Copa e das Olimpíadas.


A felicidade das classes privilegiadas vai de encontro aos moradores marginalizados que não comemoram, pois o tapume da indiferença tenta esconder a miséria contida neste Complexo. A extrema pobreza humana segue em paralelo com os arranjos das construções, o que demonstra a falta de recursos monetários para as construções.


A Linha Vermelha se encontra à esquerda, do Complexo da Maré, que permanece atrás dos tapumes, mostrando que as reformas também não cabem em nossas consciências. A falta de possibilidades dos moradores que são sobreviventes de uma perversa manutenção de hierarquias que se perpetuam por séculos e que se alimentam com a miséria humana onde a cor da pele e a condição social se impõem.


O Complexo da Maré é uma maré que não tem peixes, mas tem rios de esgoto e uma única bica coletiva. O Complexo se contrapõe aos financiadores desta servidão que desfilam com suas camisas das cores da Bandeira do Brasil, demonstrando patriotismo exacerbado e grande incoerência nas palavras que agridem e se enchem de ódio ao social, ao ser humano.


Figura 1: O que o tapume esconde: esgoto a céu aberto



Figura 2: Na McLaren não há esgoto, mas há ciclovia.




Figura 3: Corredor da favela McLaren, quando chove a água sobe mais de um metro e destrói todos os barracos.



Referências


Olimpíadas Rio de Janeiro Complexo da Maré por Bethânia Lima e Yago Gonçalves (texto) e Ruberli Angelo (texto e fotos) — publicado 08/08/2016 15h18, última modificação 08/08/2016 17h17.

Bethânia Lima é estudante de Relações Públicas, Yago Gonçalves é fotógrafo e estudante de Publicidade e Propaganda e Ruberli Angelo é artista plástico e ensaísta. Todos são moradores do Rio de Janeiro

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/rio-2016-do-outro-lado-do-muro-olimpico acesso 03/11/2016.


Rio 2016, maravilhosa para poucos por Miguel Martins e Rodrigo Martins, com Marsílea Gombata — publicado 08/08/2016 04h53, última modificação 08/08/2016 14h04. http://www.cartacapital.com.br/revista/913/rio-2016-maravilhosa-para-poucos acesso 03/11/2016.


Figuras 1, 2, 3, Olimpíadas Rio de Janeiro Complexo da Maré http://www.cartacapital.com.br/sociedade/rio-2016-do-outro-lado-do-muro-olimpico acesso 03/11/2016.





POSTS RECENTES
bottom of page