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Incertezas chilenas pós-anos de chumbo: a preocupação com um desenvolvimento humano na década de 90

O documento do Programa das Nações Unidas de Desenvolvimento (PNUD) feito para o Chile no final da década de 90 revela um paradoxo no processo de modernização do país, mais acentuado na capital Santiago. Apesar de um crescimento do PIB (de 3,3% ao ano no começo da década para 7,6% em 1996, de um crescimento real do salário em cerca de 5% e de uma queda no desemprego (de 8% para 7%) e da inflação (de 27% ao ano para 7,4% ao ano), os chilenos apreendiam um cenário estagnado, uma situação econômica que não refletia no cotidiano dos habitantes. Para isso, o documento debruça sobre importantes aspectos desse paradoxo: questões sociais, culturais e políticas.

Referente ao aspecto social, uma interessante pesquisa feita pelo PNUD demonstra que a pobreza caiu de 45,1% em 1987 para 23,2%, só que para os chilenos, a percepção de que a situação dos pobres continuou igual (44,3%) ou piorou (24,5%) representam mais de dois terços da amostra pesquisada. Nesse sentido, 78% dos chilenos creem que o crescimento econômico somente beneficiaria uma minoria e que a distância entre ricos e pobres se mantinha a mesma, sobretudo nos centros urbanos majoritários – como, por exemplo, a capital Santiago. As “regras do jogo” definiam quem lucrava com esse crescimento e quem continuava na mesma ou em situação pior, uma bonança desigual que retalhava o espaço urbano chileno e santiaguino de acordo com esses interesses econômicos.

No que determinam enquanto paradoxo do desenvolvimento cultural, o documento revela uma sociedade cada vez mais enclausurada, mais egoísta, de méritos próprios e de repulsa ao outro. Apenas 8,2% dos habitantes confiam na maioria das pessoas sem uma maior ressalva, um número alarmante e que ressalta esse componente de desconfiança, percepção das diferenças sociais e reforço de cidades esquadrinhadas de acordo com o seu papel na lógica de inserção global da cidade. Uma desconfiança com o vizinho, um descrédito com as instituições representado pelas participações nos quadros eleitorais daquela época, conforme as imagens abaixo:

Por último, nessa introdução dos paradoxos a serem enfrentados pelas Nações Unidas no território chileno, nota-se que o país ainda se recuperava das cicatrizes deixadas pelos anos de chumbo da ditadura de Pinochet. Nessa nova etapa social e econômica que ganhava protagonismo nesses poucos anos de democratização, os chilenos creem que o país está economicamente melhor mas que as pessoas não vivem mais felizes, fruto de uma incerteza social dos rumos do país de feridas abertas e de um terror recente da repressão. Avanço nos índices, descrença nas instituições, uma percepção de segregação: retratos santiaguinos e chilenos da década de 90.


Referências:

PNUD (1998). Desarrollo humano em Chile 1998. “Las paradojas de la modernización”. Santiago do Chile: Programa das Nações Unidades para o Desenvolvimento, 1998. Disponível em: <http://desarrollohumano.cl/idh/download/1998.pdf>. Acesso em 09 dez. 2016


Imagens: PNUD (1998).




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