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O CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA E A PIRATARIA

O atual estágio de globalização incita, através da mercadoria, o desejo de acesso a produtos difundidos pelo grande capital, cujo símbolos e marcas são impulsionados pela propaganda e mídia, pulverizando-se entre diversas classes sociais, incluindo aquelas que, sem poder aquisitivo suficiente, não podem ter acesso a tais produtos. A lógica do consumo, altamente presente nos grandes centros urbanos, permeia as esferas da economia urbana tangendo através da pirataria, inclusive, aqueles que pela lógica do mercado não teriam acesso a tais produtos. Para explanar sobre tal problemática, utilizaremos os conceitos de circuito superior e inferior da economia, propostos por Milton Santos, no qual o circuito superior pode ser descrito como aquele que resulta diretamente do processo de modernização, com a reprodução pautada na acumulação de capital e visando atender os indivíduos que possam dele se beneficiar; enquanto o circuito inferior é resultante indireto da modernização, cuja reprodução é pautada como um meio de sobrevivência daqueles que trabalham neste circuito e visa atender a população que não consegue se beneficiar do circuito superior. Os dois circuitos, então, devem ser apreendidos como resultado do mesmo processo, não podendo assim serem analisados de maneira dicotômica.


Sendo partes da mesma totalidade, é notória a forma como a pirataria, diretamente vinculada ao circuito inferior, é tida como prejudicial à reprodução do circuito superior e revela as contradições existentes no âmbito da economia urbana, como cita Tozi:


“É nesse contexto do mundo que pretendemos aqui refletir sobre a pirataria como um fenômeno revelador das contradições do período, pois ao mesmo tempo em que as práticas a ela vinculadas utilizam, em seu benefício, as condições técnicas e normativas criadas pelos agentes hegemônicos (os Estados-nacionais, as grandes empresas mundiais e as instituições transnacionais) como sustentáculos da globalização, ocorre simultaneamente uma criminalização e uma aparente aversão à pirataria, como se ela estivesse apartada dos processos de globalização. Trata-se, portanto, de uma nova combinação de bases técnicas e desejos sociais, agora em escala mundial”. (p.17)


Neste contexto, Porto Alegre se descataca por possuir uma alta atividade na pirataria, como demonstra uma repostagem jornalística de 2013 classificando a cidade como a maior produção de mídias falsificadas do país, tendo como consequência uma maior fiscalização e repressão do poder público que, através de meios normativos, conduz projetos para combater a pirataria, apesar dela continuar existindo mesmo com tais impecilhos. A relação legal/ilegal não impede a continuidade de sua reprodução, possuindo a pirataria ligação direta com a divisão do trabalho e os usos do terriotório, revelando suas desigualdades tão marcantes na metrópole. Ainda segundo Tozi:


“Numa análise geográfica, a pirataria é um uso do território, ou seja, uma coerência, a partir de um projeto (desígnio), entre o sistema de objetos e o sistema de ações que compõem a totalidade espacial, conforme definida por SANTOS (1996, p. 51). Os diversos usos do território revelam as desigualdades nele existentes, e, simultaneamente, a coexistência, nada harmônica neste caso, entre os diferentes projetos sociais. Dizendo de outra maneira, as formas de produção, circulação, distribuição e consumo da pirataria navegam entre o legal e o ilegal, não se enquadrando apenas no segundo caso e portanto não pertencendo a um idealizado setor ilegal ou informal cuja existência se daria apartada do espaço banal. Sustentamos que tais definições são perigosas pois limam a complexidade dos processos envolvidos, além de fazer supor que não há forma, organização e estruturação específicas à pirataria”. (p. 18)




Dessa maneira, é possível inferir como os circuitos da economia podem ser apreendidos como um prisma revelador das contradições e desigualdades territoriais presentes no espaço urbano, sob influencia direta dos processos da atual globalização.


BIBLIOGRAFIA


BRINO, Vinícius. Porto Alegre é a cidade brasileira com mais mídias apreendidas. Disponível em , Acesso em Dez, 2016.


CARVALHO, Allan. Capital Porto Alegre adere ao projeto Cidade-Livre de Pirataria. Disponível em, Acesso em Dez, 2016.


SOUZA, Silmara Lopes. A pobreza e os dois circuitos da economia urbana: Reflexões teóricas. Anais do VII Congresso Brasileiro de Geógrafos (2014). Disponível em , Acesso em Dez, 2016.


TOZI, Fábio. Meio Técnico, Tenologia e tecnobrega: A Cidade e a Pirataria Como Possibilidades. Revista Tamoios. Ano VI. Nº 2, 2010. Disponível em < http://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/tamoios/article/viewFile/1415/3000>, Acesso em Dez,2016.






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