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Segregação sócio-espacial chinesa: os containers de Xangai

Arranha-céus com fachadas reluzentes dominam a paisagem da cidade de Xangai. Rodovias, aeroportos e vias ferroviárias que foram construídos na cidade nos últimos anos expressam o avanço da técnica sobre as rígidas formas que o espaço sob o modo de produção capitalista exige.


Na grandes cidades chinesas as ruas são congestionadas por carros de marcas importadas. O deslocamento no modo de produção capitalista é um imperativo. A cidade é objeto de um processo incessante de transformações que atingem aquelas áreas necessárias à realização das atividades modernas de produção e de circulação.


Apesar do avanço das técnicas sobre as formas, e de emergir como um importante polo dentro do atual jogo geopolítico, tendo durante os últimos anos fortalecido sua economia, a China ainda é um país em desenvolvimento e que denota traços bem definidos de segregação sócio-espacial.


Isso por que até 2015 cerca de 70 milhões de pessoas viviam abaixo da linha da pobreza na China. A maioria dessas pessoas vive na zona rural aonde a renda é no geral três vezes menor do que a de um morador de uma cidade grande, o que não quer dizer que dentro de uma região metropolitana enriquecida como a de Xangai não haja desigualdades.


Aliás, a segregação sócio-espacial nas metrópoles do países em vias de desenvolvimento é uma característica marcante e essas mazelas podem se entendidas no sentido de que a economia dos países da periferia é um apêndice da dos países hegemônicos que acabam exportando o subdesenvolvimento a outras partes do globo.


Fonte: Epoch Times, 2013


Nas pesquisas realizadas para a elaboração dos artigos referentes à metrópole de Xangai me deparei com um que faz referencia à famílias chinesas que moram dentro de containers e trabalham catando lixo e ferro velho para poderem pagar cerca de 250 reais por mês do aluguel.


A verossimilhança na fonte pode gerar algum receio, mas certamente este é um dado desolador se levarmos em consideração a propaganda que se faz de Xangai como a metrópole do futuro fonte receptora de grandes investimentos de todo mundo. Em outro artigo, da Folha de São Paulo, encontramos que o preço de um container entre o porto de Xangai e o porto de Santos é o mesmo valor do aluguel por essas famílias.


A situação dessas famílias que sobrevivem a mercê dessa condição insalubre e contradição sobre as duas formas de uso dos containers pode ser enquadrado na oposição que Milton faz entre a cidade do tempo lento, característica da maior parte das aglomerações das metrópoles do terceiro mundo, e a rigidez da cidade inteligente e subserviente a uma determinada classe dominante.


“À cidade informada e às vias de transporte e comunicação, aos espaços inteligentes que sustentam as atividades exigentes de infraestruturas e sequiosas de rápida mobilização, opõe-se a maior parte da aglomeração onde os tempos são lentos, adaptados às infraestruturas incompletas ou herdadas do passado, os espaços opacos que, também, aparecem como zonas de resistência. [...]E nessas condições que as grandes cidades do Terceiro Mundo são, por um lado, rígidas na sua vocação internacional e, por outro, são dotadas de flexibilidade, graças a um meio ambiente construído que permite a atuação de todos os tipos de capital e, desse modo, admite a presença de todos os tipos de trabalho. O planejamento urbano, sobretudo se obediente aos parâmetros das chamadas cidades internacionais, termina por estabelecer as condições de uma modernização sempre mais atual, negligenciando a maior parte da cidade e da população, o meio físico e humano, onde se criam os empregos endógenos” (SANTOS, p.39)


Fonte: Epoch Times, 2013


Referências:


SANTOS, M. TÉCNICA ESPAÇO TEMPO: Globalização e meio-técnico-científico e informacional. São Paulo, Hucitec, 2004.


YUAN, J. População pobre de Shangai aluga contêineres como moradia. Epoch Times. 20 mai. 2013. Disponível em: https://www.epochtimes.com.br/populacao-pobre-de-shanghai-aluga-conteineres-como-moradia/ Acesso em 15 set. 2016




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